Quando vi que o Goodreads descrevia Por Lugares Incríveis como “o encontro de A Culpa é das Estrelas com Eleanor and Park” achei meio desanimador. Outro YA tentando ser profundo, até quando?
Mas depois de acabar a leitura, eu só queria gritar ao mundo: NÃO É NADA DISSO. NÃO ACREDITEM NELES, NÃO! Tudo isso enquanto chorava loucamente e tentava juntar todos os meus pedaços que ficaram quebrados.
Qualquer sinopse que tente fazer sobre a história vai soar meio clichê. Até porque o enredo parece meio xurumelas mesmo. Mas resumindo, são dois adolescentes, Theodore Finch e Violet Markey, que têm tendências suicidas e se encontram no alto da torre da escola em um momento em que ambos estavam pensando em se jogar. Um ajuda o outro a sair da beira do abismo. A partir daí, vão se envolvendo cada vez mais enquanto fazem um trabalho de Geografia juntos.
Nos primeiros capítulos, tive medo que o transtorno de Theodore fosse romantizado e ele virasse um “manic pixie dream boy”, o que passou beeeem perto. Mas ele se transforma em alguém tão marcante que é quase impossível não se apaixonar. Sua característica mais real, para mim, é a de conseguir omitir de toda sua confusão, depressão e transtorno de todos à sua volta. Ele faz de tudo para o ser o cara esquisito, o encrenqueiro, o garoto problema, o estranho e prefere ser assim a ser rotulado como o garoto depressivo, bipolar ou seja lá qual doença vão dizer que ele tem.
Violet me incomoda um pouco. No começo, eu subestimei sua dor porque ela não queria ser ajudada e isso foi chato. Mas depois entendi que meu sentimento pela personagem era só porque eu achava que o Finch precisava de muito mais ajuda que ela. Enquanto ela tinha todo amor, estrutura, dinheiro, popularidade e compreensão, ele não tinha nada. Ela me surpreende positivamente no fim, quando se mostra uma garota forte que consegue sair do fundo do poço com suas próprias pernas.
Apesar de ter adorado o livro, algumas coisas me incomodaram. A primeira foi a repetição do padrão de unir “pessoa popular + pessoa que sofre bullying”. Os estereótipos do adolescente tipicamente americano continuam os mesmos e eu continuo me perguntando se todas as escolas nos EUA realmente são um espelho do filme Meninas Malvadas. A segunda foi a falta de representatividade, tem um “melhor amigo negro” que é um personagem vazio e ainda por cima reforça a ideia do cara negro fodão que transa com todas. 😦
O livro é narrado em primeira pessoa. O que faz sentido aqui porque parece que a intenção é dar veracidade ao que pessoas com transtornos psicológicos sentem. Não é autoajuda, a autora quer mostrar como é essa pessoa por dentro e não como é a sua doença. O que deixa tudo ainda mais triste.
É um YA sincero e que trata de assuntos necessários para adolescentes da forma mais acessível e verdadeira possível. Jennifer Niven escreveu lindamente bem. O ano ainda só esta começando, mas tenho a sensação que já li o que pode ser o meu YA favorito de 2016.
No fim da leitura, como disse, eu estava quebrada e parecia uma maluca chorando desesperadamente no ônibus. Mas, citando uma das frases que mais gostei, me fez ficar ainda mais forte.
“O mundo quebra a cada um deles e eles ficam mais fortes nos lugares quebrados.”
[SPOILERS ON]
Adorei muito o livro, mas uma coisa me deixou um pouco frustrada. Violet consegue superar seus problemas e se reerguer através do jeito impulsivo e maníaco de Theodore. Porque era exatamente o que ela precisava. Alguém que a chacoalhasse e a fizesse sentir o que é “viver”. Mas também é exatamente o oposto do que ele necessita. Ou seja, ele só vai se afundando mais e mais na sua bipolaridade e depressão.
Quando Finch fica mais próximo do seu suicídio, ele perde sua voz no livro. Eu entendo que ele está entrando em um de seus apagões e a cabeça dele fica tão confusa ao ponto de sua narrativa ficar silenciosa e muda. Mas nós leitores ficamos pedindo mais, queremos entrar junto com Finch no seu apagão e entender tudo que ele está passando. Você fica se perguntando porque, porque, porque, meu Deus, ele não recebe nenhuma ajuda.
No fim, o livro passa a ser sobre como Violet supera a morte dele e como ela sente sua falta. Theodore perde o protagonismo quando o que deveria ter acontecido era totalmente o oposto. Mas gosto da ideia de mostrar diferentes pontos de vistas, o de alguém que superou a depressão e de alguém que, infelizmente, não. É devastador.
[SPOILERS OFF]
Indico muito para todos que estão procurando encontrar (finalmente) algo novo, apesar de continuar na temática “sick-lit”, no gênero juvenil.
Alguém também já leu?
Um beijo.